Uma surpresa. Já havia escutado seu nome, sobrenome principalmente. Sua obra, O continente das Lagens um verdadeiro texto-monstro, uma obra fetiche para historiadores. Estou falando de Licurgo Ramos da Costa, lageano que conheceu pessoalmente Getúlio Vargas, Mussolini, Salazar, Roosevelt, Juscelino, Jorge Luiz Borges, entre outros, quase entrevistou Hitler, trabalhou nas vísceras do Governo Vargas, especificamente no Estado Novo, esteve diante de Frida Khalo, Diego Rivera, chefes de Estado, artistas, governos controversos e passageiros.
Conheceu o Rio de Janeiro na sua Belle Époque, conversou com Ruy Barbosa, Pedro Calmon, enfim. Tive essas notícias e fiquei surpreso diante da empreitada desse senhor, que tento ao máximo aqui evitar o julgamento, embora já tenha feito uma apresentação aos moldes de um bajulador, tenho difículdades de me conter diante de alguns valores, digamos, saudosos demais e bem questionáveis. Ainda assim faço força para não misturar alhos com bugalhos, moral com literatura, deixo o encargo para a paróquia.
Na sequência, reproduzo uma entrevista realizada pelo jornal A Notícia, na figura do jornalista Apolinário Ternes, que foi onde tive gosto de saber mais sobre o escritor, jornalista, meu conterrâneo, Licurgo. Inauguro assim, uma série, que esporadicamente vou nutrir, a partir de entrevistas, trechos biográficos, textos diversos, de personagens que me chamaram atenção enquanto fujo da vida acadêmica, perseguidora aliás, e mais: principalmente os caminhos que estes trilharam, os livros que leram, que é o que mais me chama atenção, particularmente - sou um invejoso das leituras e bibliotecas alheias.
Licurgo Ramos da Costa, o senhor embaixador
Apolinário Ternes Editor de Grandes Entrevistas
"Nasci no continente de Lagens, em terras altas..." Com estas
palavras, décadas depois de 1904, o embaixador Licurgo descreve o
pedaço de chão em que nasceu. Quase uma vida inteira depois,
em 1982, escreveria talvez sua principal obra, uma história de Lages,
com o título "O continente de Lagens", em 4 volumes.
Licurgo Ramos da Costa, nasceu em Lages, no dia
4 de outubro de 1904. Filho de fazendeiro Octacílio Costa, hoje nome
de município, neto do grande líder Belisário Ramos,
fundador da dinastia dos Ramos, cedo veio para Florianópolis, estudar.
Depois a capital federal de então, o Rio de Janeiro, em 1921.
Foi no Rio, aos 17 anos, que Licurgo entrou mesmo para o mundo. Para
dele participar, quase como personagem de livro de ficção.
E, no entanto, era, foi e continua sendo a sua vida real, agora a caminho
dos 93 anos. Jornalista, escreveu e chefiou os melhores jornais da capital
do País, nos trepidantes anos 20. Com isto, conheceu os nomes que
fizeram boa parte da história do Brasil na primeira meta do século.
Amigo pessoal de Getúlio Vargas, trabalhou com ele, numa proximidade
só comparável a meia dúzia de personagens do Planalto,
dentre as quais, a filha de Vargas, Alzira.
PELO MUNDO
A partir de 1941, inicia outra trajetória ainda mais fascinante
do que a vida ao redor do poder. Tanto dos palácios presidenciais,
quanto das redações dos jornais mais importantes do País.
Adido Comercial do Brasil no México, depois Lisboa, Milão,
Roma, Washington, Nova Iorque, Madri, Buenos Aires, e Montevidéu,
quando se aposenta como ministro de primeira classe, em 1973.
Nestas capitais, poliglota que domina 5 idiomas, o lageano não
só conheceu os principais monumentos históricos do Ocidente,
incluindo os maiores museus, mas pôde conviver, conversar e privar
de amizades com artistas, escritores, políticos e estadistas como
Roosevelt e Eisenhower, Salazar e Franco, Picasso e De Chirico, Jorge Luiz
Borges e Octávio Paz, Ruy Barbosa e Manoel Bandeira, Ortega Y Gasset
e papas como Pio XII, Paulo VI e João Paulo II. Foi amigo pessoal
de Portinari e Villa Lobos, de Getúlio e de Juscelino. Enfim, o embaixador
Licurgo Costa não conheceu apenas os países de todo o Ocidente,
conversou com as maiores personalidades do século 20. Aqui e no exterior.
Perambulando pelo mundo, Licurgo Costa viveu emoções fortes,
vivendo os acontecimentos que mudaram a face da Europa. E do mundo. Com
cultura invejável, memória excepcional e plena lucidez, ele
aquiesceu em conversar com o jornalista, para mais "uma daquelas entrevistas".
Não era. Orientado pelo escritor Iaponan Soares, conseguimos, preliminarmente,
toda a consideração do dr. Paschoal Apóstolo Pitsíca,
presidente da Academia Catarinense de Letras, amigo pessoal do embaixador,
residentes, ambos, no mesmo edifício, no centro de Florianópolis.
Escoltado e sob as honras do presidente da Academia, que já nos
havia colocado à disposição para pesquisas e leituras,
todas as sete pastas do escritor Licurgo Costa na Academia, à qual
pertence, ocupando a cadeira número 37, e que já presidiu,
fomos protocolar e cerimoniosamente recebidos na biblioteca do escritor
lageano, no meio de uma ensolarada tarde de janeiro. A conversa deveria
ser para as apresentações. De 15 minutos, se estendeu por
mais de três horas. Iniciou-se ali uma agradável convivência
de semanas, que resultou na mais longa entrevista já publicada por
A Notícia em seus 74 anos de existência. Um documento para
a história.
LUCIDEZ PLENA
Licurgo Ramos da Costa, aos 92 anos de idade, mantém saúde
quase perfeita. Dirige, ainda, o seu automóvel no reconhecidamente
complicado trânsito da Capital de Santa Catarina. Se não tivesse
sido embaixador, a diplomacia brasileira teria perdido um raro talento.
Ele tem o comportamento afável dos lageanos, ainda que secularmente
formal, quase fechado. Nos trata com o reverencial "senhor". É
de uma polidez impecável. De gestos e fala suaves, apaziguadores.
Cerimonioso, nos concedeu, desde o início, todo o tempo possível.
Queria saber das perguntas, "para arrumar a memória, pesquisar
datas, conferir nomes". Responderia por escrito, sê possível.
E o fêz, com impressionante boa vontade. Todos os arremates, para
usar uma expressão do planalto, tudo poderia ser diretamente, em
tantas visitas necessárias.
Licurgo Costa é um dos raros catarinenses que tem verbete de seu
nome na Enciclopédia Delta Larousse, 1972. É detentor da Carteira
Profissional número 1 de Santa Catarina. Membro da Academia e do
Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Dezenas
de condecorações. Citações em livros, no Brasil
e no exterior. Tem 18 livros publicados e é um intelectual de brilho,
com vastíssima cultura sobre a história do mundo.
Um catarinense ilustre, um senhor embaixador, casado com a paulista Susy
Garcia da Costa, que hoje divide as alegrias da velhice num apartamento
emoldurado com obras de arte trazidas das mais diferentes partes do mundo.
Tem uma filha, casada com um fazendeiro do Uruguai, que reside em Montevidéu,
e que já lhe deu 3 netos e uma bisneta.
Nas páginas seguintes, o depoimento do embaixador, exclusivo para
A Notícia na série Grandes Entrevistas. Confira.
Em Lages, à luz de velas, com leituras da Europa.
Nesta primeira parte, Licurgo
Costa conta como foi sua infância. Filho de família importante,
numa cidade de 1.500 habitantes, sem nenhuma das invenções
do século 20. Sem energia elétrica, caminhando em temperaturas
de 4 a 5 graus. A rotina do cotidiano, as leituras do pai, a influência
da cultura portuguesa: na raiz do lageano, um homem que vem de Portugal,
de séculos e séculos passados...
A FORMAÇÃO
À sugestão de Apolinário Ternes para que esta entrevista
começasse com um breve estudo sobre "minha formação",
reagi perguntando: "Mas, será que isso interessa a alguém?"
Ele aduziu vários argumentos defendendo a idéia e ficou
combinado que eu a reexaminaria e se concordasse, selecionaria alguns dados
para que, num próximo encontro, falássemos um pouco sobre
os meus longínquos tempos de infância, adolescência e
estudos.
Lembrei-me, depois, que eu mesmo, nas muitas vezes em que, por falta
de assunto, me ponho a pensar nesta vida que vou levando há mais
de 92 anos, me pergunto, um tanto surpreso, como é que sozinho
na maior cidade do País o Rio da "Belle Époque"
para onde convergiam, dispostos a vencer, a triunfar por qualquer
preço, todos os ambiciosos do Brasil, consegui sobreviver e até
a alcançar alguma projeção? E chego sempre à
conclusão de que devo ter levado comigo alguns fatores decisivos
para a luta em que me envolvi. E, ainda mais, aqueles que lá alcançaram
a vitória, fosse modesta como a minha ou vistosas, espetaculares
como as de uns poucos privilegiados, de certo não lutaram com as
mesmas armas. E nesta ordem de idéias tem razão o eminente
jornalista, quando sugere começarmos falando sobre uma época
de minha vida em que, presumivelmente, me armei de recursos para não
ser derrotado. Será então, a da minha infância e adolescência,
ou melhor, a do primeiro quartel do século que está terminando.
A Notícia: Como foram os seus anos de infância,
em Lages? A vida familiar na fazenda. Rotina daqueles anos, lembranças
daqueles tempos.
Licurgo Costa: Parece-me prudente, de início, algumas
breves considerações à margem da minha provecta idade.Se adotarmos o critério cronológico de Eric Hobsbawm, tido
como o maior historiador vivo, que considera o século 20 encolhido
entre o começo da primeira Conflagração Mundial e o
término da desagregação do Império Soviético,
ou seja entre 1914 e 1991 e, portanto vigorando apenas por 77 anos, eu faço
parte de uma parcela modesta da humanidade que colheu suas impressões
sobre fatos de que participou, testemunhou ou foi apenas contemporâneo,
na vigência de três séculos. Vivi um decênio do
século 19, 77 anos do 20 e já estou completando o primeiro
quinqüênio do 21. Uma performance singular, sem dúvida.
A bem dizer, quando nasci, na remota primavera de 1904, houve certo rebuliço
na antiga "Villa de Noça Senhora dos Prazeres da Fronteira do
Certam das Lagens", que então já havia encurtado o seu
longo e gracioso nome para Lages, simplesmente.
Explica-se a agitação: afinal eu era, pelo lado materno
o primeiro neto do coronel Belisário Ramos superintendente municipal
como se chamavam os prefeitos da época e, o que não
deixava de ser relevante, fazendeiro dos mais abastados da região
serrana. E mais, era o primeiro sobrinho-neto do governador Vidal Ramos,
que enfrentou seis dias de viagem do Desterro a Lages para me conhecer e
se congratular com o irmão pelo acontecimento. Naquele tempo estas
deferencias na família tinham grande significação.
Mas também pelo lado paterno a situação não
era menos brilhante, visto que era filho primogênito do secretário-geral
da superintendência e respeitável jornalista, assim como neto
do coronel João Costa, deputado estadual em várias legislaturas
e então presidente da Câmara Municipal.
Como disse, Lages do meu tempo de infância e adolescência
teria normalmente uns 1.500 habitantes que, nos três meses de inverno,
passariam para uns 1.800 com a chegada dos fazendeiros e suas numerosas
famílias. Umas dez ruas bem delineadas, três praças
com algumas árvores, sem qualquer tipo de calçamento, formavam
o quadro urbano. Quatro ou cinco das ruas centrais dispunham de amplas calçadas
ou passeios laterais, de lageões grossos de cerca de um metro quadrado
e de uma cor rosada. Este tipo de pedra comum naquela área é
a origem do nome da cidade.
Quando chovia forte as ruas se transformavam em rios de lama, o que não
tinha maior importância porque, até mais ou menos 1919, por
elas trafegavam alguns carros de mola, puxados por cavalos, umas poucas
carroças, lentos carros de bois de vendedores de lenha, pequenas
tropas de cargueiros, vindos "de baixo" ou seja do litoral, trazendo
sal, arroz, farinha de mandioca e de trigo e para lá voltavam carregando
suas bruacas com xarque (carne seca) milho, feijão, pinhão
e batata paraguaia. Mas o trânsito maior era de cavaleiros, vindos
das fazendas, dos sítios, das chácaras, para alguma compra,
pagamento de imposto, consulta a advogados nunca vi querelarem tanto
como naquele tempo em Lages e sempre havia cavalos encilhados e amarrados
nos palanques às portas de armazéns, casas de fazendas armarinhos,
farmácias, cartórios e até igrejas. E no verão,
naqueles dias de abafante mormaço, quebrando o silêncio das
ruas ensolaradas ouvia-se o chiado monótono e distante dos carros
de bois, descendo o morro do posto, carregados de lenha. E quando o minuano,
caía de repente sobre a cidadesinha levantava uma polvaderara visível
a quilômetros de distância.
De noite um manto de escuridão envolvia a cidade. Não havia
eletricidade, as casas eram escassamente clareadas com velas de cebo ou
lamparinas de querosene que empestavam o ambiente com seu cheiro forte e
sua fumaça irritante. Em toda a área urbana dois ou três
botequins conservavam suas portas abertas até as dez da noite, com
seus bêbados habituais. De vez em quando algum cachorro latia e ao
clarear do dia os galos faziam um alarido tremendo na cidadesinha.
E era com a luz bruxuleante de uma vela que eu estudava ou lia, à
noite. É verdade que a gente se deitava por volta das oito horas
da noite e logo ao amanhecer, entre 6 e 6 1/2, no verão ou 7 e 7
1/2 no inverno já se pulava da cama. Por volta das 7 horas se tomava
o café com mistura o pão d'água ou pão
sovado comprado em uma das duas padarias da cidade ou bolinhos de
farinha de fubá fritos na hora o horário do almoço
variava entre 11 e meio-dia e o jantar, a janta como dizem os lageanos ainda
hoje, entre 4 e 5 da tarde.
Com tal horário não era de admirar que meu pai, às
19 horas já estivesse deitado, e lendo seus jornais e livros à
luz de uma vela. Mas a dele era de luxo, "vela de estearina" ou
espermacete, mais forte que as feitas em casa e cujo pavio não soltava
fumaça.
A nossa lida de todos os dias era duríssima. Para não entrar
em pormenores, direi que fora dos estudos, a partir dos 7 anos trabalhávamos
na lavoura, indo ao Potreiro Grande, hoje bairro Frei Rogério, buscar
as vacas, sair quase de madrugada, inverno e verão para comprar pão
e três vezes por semana ao açougue buscar um quilo e meio de
carne, de preferência bem gorda, cortar lenha para o fogão,
fazer o fogo de manhã, buscar água na caçamba. A mim
que era o mais velho cabia o pior de tudo, que era logo ao levantar-me,
ir buscar o pão para o café com leite, da manhã. Lembro-me
que no inverno, de chinelinho sem meia, calça de flanela e camisa
de baeta grossa eu enfrentava a geada espessa, de mãos no bolso e
com uma cesta de fibras de taquara ou gerivá, colorida, enfiada no
braço direito. Não sei como agüentava, aquelas caminhadas
no amanhecer, às vezes com a temperatura de 4 ou 5 graus abaixo de
zero.
Creio que com tudo me sobravam umas duas horas para participar das travessuras
de uma "gang" de guris que atormentava a visinhança de
nossa chácara, no começo da rua Correa Pinto e que aos sábados
e domingos jogava peladas com bolas feitas de meias velhas enroladas. Felizmente
como jogávamos descalços de pé no chão
ninguém se queixava de caneladas".
Licurgo Costa: Como resolvi fazer exames de segunda época, em
março de 1922, não vim a Lages, nas férias. O Rio entrava
numa fase de maior animação, com os preparativos para as comemorações
do 1º Centenário da Independência, em setembro e outubro.
Como vivia com grandes dificuldades com a pequena mesada recebida, resolvi
apelar para Edmundo Luz Pinto, pedindo-lhe para me conseguir um emprego,
por modesto que fosse. E ele arranjou-me um lugar de repórter no
matutino "A Pátria", então propriedade do deputado
mineiro Francisco Valladares, o "Chico Labareda", cacique de Juiz
de Fora. Veja-se como Edmundo, apesar de muito moço e não
tendo ainda entrado na vida política tinha 24 anos já
desfrutava, no Rio, de grande projeção e influência.
Lembro-me perfeitamente do meu "vestibular" para ser admitido
no grande matutino, fundado havia poucos anos, por João do Rio falecido
em 1921. Era uma tarde de 9 de novembro de 1922, véspera do quarto
aniversário da assinatura do Armistício que pôs fim
à primeira conflagração mundial. José Bezerra
de Freitas, secretário da redação, a quem Valadares
me apresentara, mandou-me escrever uma nota sobre o grande acontecimento,
entregando-me um livrinho em francês, com o registro do fato. Animado,
entusiasmado com a conquista que havia feito, numa época em que era
muito difícil conseguir colocação na imprensa do Rio,
sempre com uma imensa e aguerrida fila de nortistas candidatos a qualquer
vaga, não percebi a malícia do secretário, entregando
a um foca que há um mês completara 18 anos e que nunca havia
trabalhado em jornal, a responsabilidade de escrever sobre uma data de evidente
importância histórica. Li e reli o capítulo, ainda por
cima sem auxílio de dicionário e depois, com a caneta e pena
de molhar no tinteiro, enchi umas dez laudas de papel, de um dos palmos
cada e entreguei-as a Bezerra de Freitas que me dispensou recomendando que
eu voltasse no dia 5 seguinte às 4 da tarde.
Na manhã seguinte, muito cedo, comprei a "A Pátria" e logo no meio da primeira página, deparei com o texto que escrevi, em quadro, corpo 10, negrito, ou seja, com o maior destaque. E sem nenhuma correção. Para uma estréia era qualquer coisa de sensacional a minha aprovação naquele vestibular inesperado. E com grau 10 e louvor do agitado diretor Valladares, que me felicitou calorosamente. Apesar de que Bezerra me colocou na seção de telegramas das agências Havas e Americana e eu fiquei cortando-os e colando em tiras de papel e botando títulos. Durante uns seis meses estive relegado à seção telegráfica, a mais tediosa do jornal, embora importante, porque a colônia estrangeira no Rio fosse considerável.
Aliás, era a maior cidade portuguesa do mundo com seu milhão de lusitanos, enquanto Lisboa tinha só 800.000. De repente, inesperadamente fui passado para a seção política, como repórter parlamentar. Era a mais importante seção do jornal, um verdadeiro abacaxi recusado por todos os redatores e repórteres. A razão era fácil de compreender: sendo o dono do jornal deputado federal e, ainda por cima mineiro, o redator destacado para a Câmara Federal estaria sempre arriscado a cometer, no copioso noticiário cotidiano, redigido sempre às pressas, uma gafe que poderia custar-lhe o cargo. Era necessário, portanto, ser extremamente cauteloso, conhecer muito bem os amigos e os adversários ou desafetos do diretor, ter o maior cuidado com a bancada mineira e, afinal adivinhar as indiossincrasias do dr. Valladares que as tinha aos montões.
Na manhã seguinte, muito cedo, comprei a "A Pátria" e logo no meio da primeira página, deparei com o texto que escrevi, em quadro, corpo 10, negrito, ou seja, com o maior destaque. E sem nenhuma correção. Para uma estréia era qualquer coisa de sensacional a minha aprovação naquele vestibular inesperado. E com grau 10 e louvor do agitado diretor Valladares, que me felicitou calorosamente. Apesar de que Bezerra me colocou na seção de telegramas das agências Havas e Americana e eu fiquei cortando-os e colando em tiras de papel e botando títulos. Durante uns seis meses estive relegado à seção telegráfica, a mais tediosa do jornal, embora importante, porque a colônia estrangeira no Rio fosse considerável.
Aliás, era a maior cidade portuguesa do mundo com seu milhão de lusitanos, enquanto Lisboa tinha só 800.000. De repente, inesperadamente fui passado para a seção política, como repórter parlamentar. Era a mais importante seção do jornal, um verdadeiro abacaxi recusado por todos os redatores e repórteres. A razão era fácil de compreender: sendo o dono do jornal deputado federal e, ainda por cima mineiro, o redator destacado para a Câmara Federal estaria sempre arriscado a cometer, no copioso noticiário cotidiano, redigido sempre às pressas, uma gafe que poderia custar-lhe o cargo. Era necessário, portanto, ser extremamente cauteloso, conhecer muito bem os amigos e os adversários ou desafetos do diretor, ter o maior cuidado com a bancada mineira e, afinal adivinhar as indiossincrasias do dr. Valladares que as tinha aos montões.
AN: Voltemos, porém, ao seu trabalho como
cronista parlamentar. Quais eram, então, os nomes de maior projeção
da Câmara dos Deputados?
LC: Em seu livro "Eleição e Representação"
Gilberto Amado, um dos espíritos mais lúcidos já nascidos
no Brasil, escrevendo sobre a representação parlamentar na
república velha, afirma que naquele período (1889-1930) "as
eleições eram falsas mas a representação verdadeira".
Não sei se poderemos classificar este conceito como paradoxal, ou
seja que é ou parece contrário à opinião comum.
Porque se fizermos uma comparação entre os representantes
do povo brasileiro no Palácio Tiradentes, nos dois períodos,
talvez a maioria concorde com o julgamento do ensaísta sergipano.
O nosso parlamento da república velha era uma assembléia do
que havia de mais brilhante na cultura e na liderança brasileira.
Poder-se-á dizer o mesmo da representação parlamentar
pós-30? sem nenhum saudosismo de minha parte, não creio que
se possa comparar aquele conjunto de notabilidades escolhidas com extremo
cuidado pelos nossos honrados "coronéis" com os representantes
que vieram depois. Nos deputados e senadores da primeira República
era raro encontrar-se quem não estivesse a altura de exercer a nobre
missão de representante do povo.
Nunca naquelas quatro décadas
houve cassação por falta de decoro parlamentar ou comprovada
desonestidade como tem ocorrido sobretudo nos últimos 10 anos. Ninguém
então usou o recurso de acrescentar a seus nomes apelidos ridículos
excêntricos para ser eleito, e assim por diante, mas lembro, para
encerrar o destaque, o incrível caso do burrico "Cacareco"
que com os 400 mil votos recebidos por pouco não foi eleito governador
de São Paulo. Não resisto, porém à tentação
de lembrar o caso de d. Erundina em São Paulo. Se ele se chamasse
Maria do Carmo nunca seria eleito nem prefeita de São Thomé
das Letras, nos cafundós de Minas Gerais. Sinceramente não
pretendo por em dúvida seus méritos, sua inteligência,
seu espírito público, sua simpatia, sua honradez etc. O que
causa admiração é que uma pessoa sem passado político,
sem nenhum tiricínio administrativo, paraíbana com relativamente
curta residência em São Paulo, sem maiores recursos para sua
campanha, amparada apenas por um Partido Político ainda em formação,
tenha conseguido eleger-se governadora de uma cidade que pelo seu imenso
eleitorado e o mais rico centro cultural do País, é a terceira
unidade administrativa brasileira. Ora, Erundina é um nome raro,
fácil de gravar, um tanto excêntrico, destes com que o espírito
brincalhão dos brasileiros simpatiza e que, portanto, constitui uma
prova do que acima afirmo.
Agora, olhando o Congresso atual o panorama é outro. Há
nele vários ou melhor, muitos senadores e deputados de inegável
valor, mas predomina a mediocridade. Tinha razão o dr. Ulisses Guimarães,
quando chegou ao recinto da Aamara, creio que na inauguração
de legislatura de 1987, olhando-o demoradamente, exclamou: "Que pobreza!"
Pois olhando o recinto do Palácio Tiradentes naquele remoto 1923,
quando ali comecei a trabalhar ele teria exclamado: "Que riqueza".
Nomes: Afrânio de Mello Franco, João Luís Alves, Afonso
Pena Junior, Gilberto Amado, Getúlio Vargas, Costa Rego, Júlio
Prestes, Alvaro Batista, Carlos de Campos, Cincinato Braga, Maurício
de Lacerda, Arthur Bernardes, Ildefonso Simões Lopes, Pandiaá
Calógeras, Francisco Valladares, Viana do Castello, Otávio
Mangabeira, João Mangabeira, Lindolfo Collor e até o nosso
paraguaio Celso Bayma, então um dos grandes advogados, com banca
no Rio. Aí estão vinte nomes, arrolados de memória
e que constituem um conjunto de grandes homens, que deixaram nomes na história.
LC: Conheci-o, realmente, na Câmara, em 1923, mas por
circunstâncias especiais cheguei a ter com ele uma convivência
muito freqüente, fora do Palácio Tiradentes, e até uma
certa intimidade. A história é um pouco longa mas vou resumi-la
porque tudo o que refere à Revolução Federalista interessa
aos estudiosos da vida catarinense.
Em 14 de novembro de 1894 a Divisão Norte do chamado Exército
Republicano (Pica-Paus) sob o comando do general Pinheiro Machado, acampou
em Lages, de onde havia partido, apressadamente na manhã do mesmo
dia a coluna federalista (Maragatos), sob o comando de Gumercindo Saraiva
que, com seus 1.600 homens ali estivera arranchado durante três dias.
A Divisão Norte ficou em Lages, refazendo forças, durante
quase uma semana. Pinheiro Machado hospedou-se em casa de meu bisavô,
Vidal Ramos Senior, onde deu solenes audiências aos líderes
locais. Seus oficiais de maior graduação, muitas dezenas,
fizeram boas relações na sociedade lageana. Entre eles figurava
o coronel Manoel do Nascimento Vargas, pai de Getúlio e que fez boa
amizade com meu avô João Costa, então um dos líderes
políticos da cidade e muito versado em história, sobretudo
a da Guerra do Paraguai, em que seu irmão, Domingos José da
Costa teve notável atuação.
Ora, o coronel Vargas também
dela participara e tal circunstância favoreceu o estreitamento das
relações entre ambos. Outro pormenor, o coronel chegou a Lages
já "desprevenido" como se dizia e até hoje se diz
em Lages quando se quer alegar não ter dinheiro, na ocasião.
João Costa emprestara-lhe um conto de réis, quantia nada modesta
para a época. Logo que a Divisão Norte voltou ao Rio Grande
do Sul, uns dois meses depois o coronel mandou, de Porto Alegre, "um
próprio", quer dizer um mensageiro especial, trazer o dinheiro
a Lages.
Lembrava-me deste fato como de muitos outros porque desde menino gostava
de ouvir meus avós que, participaram de tantos acontecimentos interessantes
da história de Lages, recordá-los.Como todo gaúcho o dr. Getúlio gostava destas conversas
sobre revoluções, Maragatos, Pica-paus, Pinheiro Machado,
Gumercindo Saraiva e, fugindo da chatice do plenário, com seus grandes
discursos sem maior interesse freqüentemente me convidava para um cafezinho,
no restaurante da Câmara onde ficávamos recordando coisas da
história dos nossos Estados.
Outra circunstância que nos aproximou foi sermos vizinhos. Ele
morava com a família na Pensão Wilson, à praia do Flamengo
nº 1 e eu, ali perto, no começo da rua Silveira Martins, de
sorte que muitas vezes tomávamos o mesmo bonde ("Real Grandeza"
ou "Leme") para irmos para o centro, para o Palácio Tiradentes.
Aos sábados e domingos, à tardinha ele saía com a família,
a caminhar, ao longo da praia do Flamengo e sempre nos encontrávamos
e fazíamos juntos o vagaroso "footing", tão agradável
porque suavisado pela brisa que vinha do mar.
AN: E dos outros nomes mencionados quais os de
maior realce?
LC: Sem sombra de dúvida Gilberto Amado, ainda nos seus trinta
e poucos anos e com uma cultura filosófica, literária e histórica
notabilíssima, que dava um sabor especialíssimo à sua
oratória tornando seus discursos um atrativo que, quando anunciados
pela imprensa lotavam as galerias. Não era uma estrela, era uma verdadeira
constelação de valores. Apesar de que, como no caso de Ruy
Barbosa, a voz não o favoreça, era um tanto estridente. Os
outros nomes também indicavam valores fora de série. Maurício
de Lacerda, pai de Carlos Lacerda era um orador primoroso e de incrível
bravura; Lindolfo Collor tinha posição destacada como orador
e chegou a liderar a bancada gaúcha. Especializou-se em temas econômicos,
mas era um temperamento impulsivo e tinha freqüentemente graves atritos
com os colegas; dos dois Mangabeiras o maior era João mas Otávio,
com sua oratória empolada, à moda baiana tinha maior cartaz
na imprensa.
AN: Entremos no capítulo sempre atual da
história do Brasil no século em curso: a Revolução
de 30.
LC: Sabemos que havia na República Velha, vigente até
1930, um único partido político, o Partido Republicano (nacional)
que acrescentava a esta designação o nome do Estado em que
operava. Assim tínhamos o PR Paulista, o famoso PRP, o PR Mineiro,
o PR Catarinense e assim por diante. Nesta constelação de
sub-partidos dois astros poderosos disputavam o domínio político
do País, tratando de atrair para as respectivas órbitas os
outros PRs, dos quais apenas o Rio Grande do Sul equidistante de ambos e
fora ao tempo de Pinheiro Machado uma força mais atuante que a dos
PRP e PRM. Eram dos donos da República, visto que formavam as maiorias
do Congresso como bem entendiam, por via da Comissão de Reconhecimento
(creio que o nome era este) com a qual na instalação de cada
legislatura anulavam cassando os respectivos diplomas, a eleição
dos deputados ou senadores indesejáveis.
AN: Foi mais ou menos a época da criação
da Agência Nacional?
LC: Não. Em 1934 ou 35 foi criado o Departamento Nacional
de Propaganda e Difusão Cultural, integrado pelas divisões
de rádio, cinema e turismo. Curiosamente deixaram de incluir uma
Divisão de Imprensa, no caso mais importante que qualquer das outras.
Alguém advertiu o presidente Getúlio Vargas para estranho
lapso e ele mandou chamar-me ao Catete, convidando-me para organizar a divisão
faltante. Em 2 de março de 1936 inauguramos o serviço, começando
também a distribuir noticiário para toda a imprensa brasileira,
cadastrada com o maior rigor. Entre jornais, revistas, agências de
notícias, boletins, rádio-emissoras atingimos a um número
impressionante: 959 entidades. O nosso noticiário era variadíssimo,
não se limitando apenas a atos oficiais. E tínhamos a preocupação
de somente mencionar o nome do presidente quando indispensável. Isto
causou excelente impressão, dando aos nossos "assinantes"
a certeza de que não se tratava, de um serviço de propaganda.
O material era aproveitado até pelos grandes jornais das capitais.
Numa segunda fase organizamos um serviço nos mesmos moldes para a
imprensa estrangeira, distribuindo por via aérea e rádio-telegráfica
um boletim em espanhol, francês e inglês, contendo sobretudo
informações de caráter econômico e financeiro
sobre o Brasil. 1.313 entidades no mundo todo recebiam os nossos serviços
e por via do serviço de recortes assim como através de embaixadas
e consulados do Brasil conseguimos avaliar o seu aproveitamento, que ficava
ao redor de 40%. No serviço nacional o aproveitamento beirava 80%.
Creio que nunca houve no Brasil qualquer coisa, no gênero, que se
comparace ao que foi alcançado.
Criamos também uma distribuição de artigos assinados
por grandes nomes de escritores e jornalistas, entre os quais Azevedo Amaral,
José Maria Bello, Henrique Pongetti, Rubem Braga, Genolino Amado,
Erico Veríssimo, Juracy Camargo, Danton Jobim, Magalhães Junior,
Pedro Calmon, entre outros.
A excelente aceitação do material distribuído levou-me
à concretização de uma velha idéia, a da fundação
de uma Agência Nacional de Notícias, nos moldes das grandes
organizações internacionais, como a Havas, United Press, Associeted
Press, Ansa etc. O nome deveria ser Agência Brasileira, mas já
estava registrado e ficamos mesmo com o Nacional, criada por portaria do
Ministro da Justiça, em 1 de março de 1937. O êxito
alcançado pela Agência Nacional foi extraordinário,
quer no Brasil quer no exterior. Até nos jornais diários de
bordo dos grandes transatlânticos figurava a nossa sigla.
Esta considerável importância recebida mensalmente
era distribuída a títulos de subvenção para
os jornais do Rio, alguns de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas
e, se não me falha a memória, da Bahia. No Rio a exceção
era o "Correio da Manhã" que só aceitava receber
pelos anúncios publicados, como os do Banco do Brasil, Caixa Econômica,
Instituto do Açúcar, mensagens oficiais etc. O "O Estado
de S. Paulo" era ainda mais rigoroso, não aceitava qualquer
publicidade de órgão governamental. As subvenções
aos jornais iam de 20.000 a 100.000 dólares atuais, esta última
para os "Diários Associados".
Desta verba era eu que tomava
conta porque o Lourival Fontes, por indolência ou mesmo por escrúpulo
exagerado mas respeitável, não queria nada com ela nem com
qualquer coisa em que entrasse dinheiro. Claro que eu o obrigava a tomar
conhecimento de tudo e fazia-o assinar todos os recibos, como posso comprovar
com as centenas deles que ainda conservo, passados quase sessenta anos.
Conservo-os porque a verba era secreta e embora nunca neste longo tempo,
ninguém ousasse colocar qualquer dúvida sobre sua aplicação,
eu sempre achei melhor guardar as provas da sua distribuição.
Tínhamos também a colaboração paga, de muitos
escritores, sem distinção de cor partidária ou ideológica.
Entre outros nomes ilustres e acima de qualquer suspeita estava Graciliano
Ramos.
AN: Em 1938 o sr. esteve na Itália. Que
impressões lhe ficaram do fascismo e de Mussolini?
LC: Realmente em fins de 1938 cinco jornalistas brasileiros, entre
os quais Agripino Grieco e Hanrique Pongetti, fomos convidados pelo governo
italiano a ir conhecer um velho país, "renovado pelo fascismo".
Perguntei ao adido cultural da embaixada, portador do convite se ele importava,
na volta da viagem, na obrigação de escrever favoravelmente
sobre o que havíamos visto. Pelo contrário, o governo italiano
queria que fôssemos absolutamente sinceros, nas impressões
com que apreciássemos a visita.
A imprensa italiana, obediente à batuta do Ministério da Propaganda e no velho hábito peninsular de gastar superlativos, deu o maior relevo à visita dos "eminestíssimos jornalistas brasileiros" que iam conhecer as grandes realizações de Mussolini, na renovação do país. Impingiram-nos uma agenda apertadíssima de visitas e homenagens sem sequer uma hora livre. Naquelas três semanas em que percorremos todas as grandes cidades, obras do governo, até pontes secundárias, escolas profissionais, hospitais, duas cidades fundadas pelo partido nas terras recuperadas dos pântanos mefíticos e milenários do agro-pontino, estradas asfaltadas na ilha de Capri, passarelas sobre as crateras do Vesúvio, novas escavações em Pompéia e Herculanum e naturalmente magníficas instalações do partido e, como não poderiam deixar de ser, banquetes diários com autoridades dos locais visitados naquelas três semanas saíamos do hotel por volta das oito da manhã e voltávamos lá pelas 10 ou 11 da noite extenuados, e aspirando apenas a dormir. De início visitamos em Roma o Conde Ciano, ministro das Relações Exteriores e genro do "Duce", depois Alfieri, da Propaganda e finalmente Mussolini em seu imenso despacho no Palácio Venetia, com uma mesa lá no fundo, a vinte metros da porta de entrada e apenas com uma cadeira em que Mussolini sentava. Ao nos ver entrar levantou-se e nos esperou em pé e foi assim, frente à sua mesa que conversamos durante quase uma hora, entreguei-lhe cinco volumes dos discursos de Getúlio Vargas, sob o título de "Uma nova política para o Brasil", com uma dedicatória de duas linhas: "Ao senhor Benito Mussolini, com as cordiais saudações de Getúlio Vargas", ficou evidente que o "Duce" não gostou da secura getuliana. Homem de viva e extraordinária inteligência falou-nos sobre como encontrou a Itália ao assumir a chefia do seu governo, em 1922, devastada, saqueada pelos políticos, sem leis e sem administração, falida e à beira de ser fragmentada em republiquetas. Quando assumiu o governo, embora amparado por um partido jovem e coeso, ao tomar conhecimento da situação real do país, quase desanimou. Levou muitos anos para mudar a mentalidade dos italianos, entorpecida por décadas de desgoverno e de corrupção. Foi quando afirmou em discurso que "A Itália não é difícil de governar. É inútil" (de governar).
Depois falou sobre o Brasil, "uma potência econômica e política emergente", que não tardaria muito se bem governada, a figurar entre os líderes do mundo. Procurava, naturalmente, sensibilizar-nos e proporcionar material para nossas futuras reportagens. Deixamos o seu gabinete com uma impressão de que ouvíramos um homem de Estado, amadurecido, natural, de viva inteligência.
No dia seguinte havia uma comemoração importante, a do vigésimo aniversário da vitória italiana na conflagração de 1914. Defronte do Palácio Venetia, sob a sacada enorme do gabinete de trabalho de Mussolini uma multidão de dezenas de milhares de camisas pretas esperavam sua aparição para o discurso de praxe. Quando ele surgiu sozinho naquele palco a massa ululante o recebeu aos gritos de "Duce", "Duce", "Duce" e ele caminhando de um lado para outro da grande sacada, acenava com o gesto oficial do fascismo, estendendo o braço direito para frente. E afinal depois de uns cinco minutos naquela exibição começou a falar. Grande orador, de frases curtas e empolgantes eletrizou a multidão durante uns quarenta minutos. O meu anti-fascismo de direita e de esquerda, nunca me levará ao desprimor de dizer que Mussolini, rostky, Lênine, Mao Tsé-Tung Salazar e mesmo Franco eram uns pobres diabos destituídos de inteligência. Pelo contrário, foram homens inteligentíssimos, apenas com uma visão equivocada em relação a minha maneira de olhar o mundo.
Terminada a visita oficial eu e o Pongetti resolvemos ficar mais um mês na Itália para visitar museus, algumas velhas cidades e até para provar um dos mais famosos vinhos, que nem isto pudemos fazer, no atropelo do programa estabelecido. Alguns dias depois a embaixada alemã em Roma transmitiu-me convite para visitar Adolfo Hitler, em seu famoso refúgio de Berchtesgaden, nos Alpes Bávaros. No dia aprazado fui procurado de manhã por um secretário da embaixada alemã, para comunicar-me que o esperava-me no aeroporto de Ciampino, o avião particular do Führer para levar-me. Não pude viajar porque na véspera caíra com uma tremenda gripe e apesar da penicilina ainda ardia em febre. Lamentavelmente perdi uma viagem que me daria material para uma reportagem excepcional.
Mussolini, no governo desde 1922 era assunto esgotado, mas o famigerado líder alemão, empossado havia sete anos, ainda em plena ascenção e, por cima, no seu refúgio alpino, também novidade, era um fecho insuperável para a minha viagem.
No mês que passamos, sem agenda oficial, fomos discretamente vigiados pela polícia fascista e quando voltei ao Brasil, na série de artigos escritos sobre a viagem mencionei o caso, causando profundo desgosto à embaixada italiana.
A imprensa italiana, obediente à batuta do Ministério da Propaganda e no velho hábito peninsular de gastar superlativos, deu o maior relevo à visita dos "eminestíssimos jornalistas brasileiros" que iam conhecer as grandes realizações de Mussolini, na renovação do país. Impingiram-nos uma agenda apertadíssima de visitas e homenagens sem sequer uma hora livre. Naquelas três semanas em que percorremos todas as grandes cidades, obras do governo, até pontes secundárias, escolas profissionais, hospitais, duas cidades fundadas pelo partido nas terras recuperadas dos pântanos mefíticos e milenários do agro-pontino, estradas asfaltadas na ilha de Capri, passarelas sobre as crateras do Vesúvio, novas escavações em Pompéia e Herculanum e naturalmente magníficas instalações do partido e, como não poderiam deixar de ser, banquetes diários com autoridades dos locais visitados naquelas três semanas saíamos do hotel por volta das oito da manhã e voltávamos lá pelas 10 ou 11 da noite extenuados, e aspirando apenas a dormir. De início visitamos em Roma o Conde Ciano, ministro das Relações Exteriores e genro do "Duce", depois Alfieri, da Propaganda e finalmente Mussolini em seu imenso despacho no Palácio Venetia, com uma mesa lá no fundo, a vinte metros da porta de entrada e apenas com uma cadeira em que Mussolini sentava. Ao nos ver entrar levantou-se e nos esperou em pé e foi assim, frente à sua mesa que conversamos durante quase uma hora, entreguei-lhe cinco volumes dos discursos de Getúlio Vargas, sob o título de "Uma nova política para o Brasil", com uma dedicatória de duas linhas: "Ao senhor Benito Mussolini, com as cordiais saudações de Getúlio Vargas", ficou evidente que o "Duce" não gostou da secura getuliana. Homem de viva e extraordinária inteligência falou-nos sobre como encontrou a Itália ao assumir a chefia do seu governo, em 1922, devastada, saqueada pelos políticos, sem leis e sem administração, falida e à beira de ser fragmentada em republiquetas. Quando assumiu o governo, embora amparado por um partido jovem e coeso, ao tomar conhecimento da situação real do país, quase desanimou. Levou muitos anos para mudar a mentalidade dos italianos, entorpecida por décadas de desgoverno e de corrupção. Foi quando afirmou em discurso que "A Itália não é difícil de governar. É inútil" (de governar).
Depois falou sobre o Brasil, "uma potência econômica e política emergente", que não tardaria muito se bem governada, a figurar entre os líderes do mundo. Procurava, naturalmente, sensibilizar-nos e proporcionar material para nossas futuras reportagens. Deixamos o seu gabinete com uma impressão de que ouvíramos um homem de Estado, amadurecido, natural, de viva inteligência.
No dia seguinte havia uma comemoração importante, a do vigésimo aniversário da vitória italiana na conflagração de 1914. Defronte do Palácio Venetia, sob a sacada enorme do gabinete de trabalho de Mussolini uma multidão de dezenas de milhares de camisas pretas esperavam sua aparição para o discurso de praxe. Quando ele surgiu sozinho naquele palco a massa ululante o recebeu aos gritos de "Duce", "Duce", "Duce" e ele caminhando de um lado para outro da grande sacada, acenava com o gesto oficial do fascismo, estendendo o braço direito para frente. E afinal depois de uns cinco minutos naquela exibição começou a falar. Grande orador, de frases curtas e empolgantes eletrizou a multidão durante uns quarenta minutos. O meu anti-fascismo de direita e de esquerda, nunca me levará ao desprimor de dizer que Mussolini, rostky, Lênine, Mao Tsé-Tung Salazar e mesmo Franco eram uns pobres diabos destituídos de inteligência. Pelo contrário, foram homens inteligentíssimos, apenas com uma visão equivocada em relação a minha maneira de olhar o mundo.
Terminada a visita oficial eu e o Pongetti resolvemos ficar mais um mês na Itália para visitar museus, algumas velhas cidades e até para provar um dos mais famosos vinhos, que nem isto pudemos fazer, no atropelo do programa estabelecido. Alguns dias depois a embaixada alemã em Roma transmitiu-me convite para visitar Adolfo Hitler, em seu famoso refúgio de Berchtesgaden, nos Alpes Bávaros. No dia aprazado fui procurado de manhã por um secretário da embaixada alemã, para comunicar-me que o esperava-me no aeroporto de Ciampino, o avião particular do Führer para levar-me. Não pude viajar porque na véspera caíra com uma tremenda gripe e apesar da penicilina ainda ardia em febre. Lamentavelmente perdi uma viagem que me daria material para uma reportagem excepcional.
Mussolini, no governo desde 1922 era assunto esgotado, mas o famigerado líder alemão, empossado havia sete anos, ainda em plena ascenção e, por cima, no seu refúgio alpino, também novidade, era um fecho insuperável para a minha viagem.
No mês que passamos, sem agenda oficial, fomos discretamente vigiados pela polícia fascista e quando voltei ao Brasil, na série de artigos escritos sobre a viagem mencionei o caso, causando profundo desgosto à embaixada italiana.
LC: Realmente, há ainda, na minha passagem pelo Departamento
de Propaganda suas viagens que tiveram muita influência em minha vida.
Em 1936 fui nomeado seu representante na delegação do Brasil
à Conferência da Paz do Chaco, a realizar-se em Buenos Aires,
onde ficamos quase dois meses. A capital argentina era, como ainda é,
uma belíssima cidade, em que a gente encontrava, como disse Murilo
Mendes a "atmosfera dos países distantes" sentida ou pressentida,
nas leituras, nas gravuras, no cinema. Uma imensa e rica capital cosmopolita,
muito diferente, em tudo, das nossas metrópoles Rio e São
Paulo, que diante dela apareciam extremamente provincianas.
Na delegação do Brasil, chefiada pelo Chanceler José
Carlos de Macedo Soares tive diária convivência com ele e com
Oswaldo Aranha, então embaixador em Washington, Rosalina Coelho Lisboa,
Edmundo Luz Pinto, Francisco de Paula Rodrigues Alves, nossa embaixada em
Buenos Aires, todos delegados e ainda com numerosos ministros, conselheiros,
secretários e adidos. Todos os países latino-americanos estavam
representados por nomes exponenciais de políticos e diplomatas.
Madri, Nova Iorque e Montevidéu
AN: E quando entrou para o Serviço Exterior?
LC:Exonerando-me do cargo em comissão, de diretor-administrativo
do DIP e do efetivo, de secretário do Museu Imperial, de Petrópolis,
aproveitei a primeira oportunidade para ser nomeado Adido Comercial do Brasil
junto à embaixada no México e diretor do Escritório
Comercial a ser ali instalado. Mas, a vida é cheia de imprevistos
e uns oito dias antes de embarcar fui surpreendido com a notícia
de que, independente de convite, estaria prestes a ser nomeado diretor-geral
do DIP, em substituição ao Lourival Fontes, afastado por pressão
dos militares. Tive de mobilizar amigos que eram também do dr. Getúlio
(Valentim Bouças, Luiz Simões Lopes e até a filha Alzira)
para livrar-me da prebenda. Os que me ajudaram não compreendiam como
eu recusava um cargo talvez superior a de ministro de Estado, para ser apenas
Adido Comercial no México.
Cheguei à capital mexicana depois de agitada viagem aérea
via Pacífico e rapidamente me adaptei aos 2.600 metros de altitude.
Aliás, naquele tempo ninguém se preocupava com problemas de
pressão arterial.
Instalei o escritório no começo do Paseo de La Reforma,
a principal avenida mexicana no nº 12 vizinho do "Caballiito",
ponto de referência tradicional da cidade. E sendo o primeiro inquilino
de todo um andar de um grande edifício consegui do seu proprietário,
Dom Desidério Garza, que lhe desse o nome de Brasil, que ainda hoje
ostenta.
Levei credenciais de representante de "A Noite" do Rio e apresentação
da UTLJ para o poderoso secretário da Central Geral de Trabalhadores
a CGT Dom Vicente Lombardo Toledano, que depois do presidente
da república, Dom Manoel Avila Camacho, era quem mais mandava no
país. E uma das minhas primeiras providências, ao chegar, foi
visitar Dom Alfonso Reyes, o mais famoso poeta e escritor mexicano de então
e ex-embaixador no Brasil. Onde o conheci e entrevistei. Com estes poderosos
elementos em seis meses eu conquistei situação privilegiada
na sociedade, na administração e nos meios culturais da cidade.
Mas foi sobretudo Alfonso Reyes, um nostálgico do Brasil e ainda
falando razoavelmente nosso idioma quem me abriu todas as portas, a começar
pela do corpo diplomático. Por sua indicação, Obregon
Santacilia, presidente do Pen Clube Internacional do México patrocinou
minha eleição para a entidade e me levou a freqüentar
o "Salão Literário" da sra. Labastida, onde fiz
três conferências sobre o Brasil. Ali conheci os três
grandes mestres da pintura mexicana, renovadores do muralismo internacional,
Diego Rivera, David Alfonsos Siqueiros e até o arredio e desconfiado
José Clemente Orosco. Na imprensa conquistei a amizade de Dom Rafale
Heliodoro Valle, o famoso licenciado Vidriera, colunista diário do
"Excelsior", o maior diário mexicano, onde meu nome era
citado freqüentemente, precedido de adjetivos em geral demasiado generosos.
Frida Kahlo, mulher a 7ª e última Diego Rivera,
também pintora de renome era freqüentadora de minha aprazível
chácara de San Angel, onde nos fins de semana eu mantinha o que os
americanos chamam de "open house" e recebia numerosos artistas
e escritores e jornalistas para jantar e que ficavam até alta madrugada.
Aliás, Diego tinha o atelier a duas quadras da minha casa e costumava
a aparecer, sem avisar, para almoçar.
Não caberia nesta conversa referências a todos os grandes
nomes mexicanos com quem fiz amizade, a começar pelo então
jovem Octavio Paz, há poucos anos distingüido com o Prêmio
Nobel de Literatura, e que foram tantos que até hoje, quando, por
descuido me deixo envolver por alguma onda de saudade de muitas fases de
minha vida, fico, realmente admirado do quanto me foi dado realizar naquele
primeiro posto que ocupei.
AN: Tendo vivido no México por alguns anos
e se integrado tão bem em sua sociedade, que impressões lhe
ficaram do seu povo e do país em geral?
LC: O México é o único país das
três Américas que tem, realmente, uma identidade definida.
Tenho o maior respeito pelos adjetivos e, portanto, muito cuidado em empregá-los,
mas no caso do México não me arreceio de afirmar que se trata
de um dos países mais fascinantes do mundo. Mas para compreendê-lo,
diz Érico Veríssimo na estória de sua viagem àquelas
terras, "uma vida só não basta". E tem carradas
de razão o grande escritor.
LC: Recebi mais um privilégio do meu destino: fui
removido para Lisboa. Ao desembarcar no cais do Tejo tive a curiosa sensação
de um regresso e depois na cidade tudo me era ou parecia ser familiar. A
leitura da obra do Eça, de Camilo, de Ramalho, durante anos, de "O
Século" o maior jornal português, que meu pai assinava,
seria a responsável pela informação da teoria platônica,
de que nós nunca conhecemos e sim reconhecemos. No correr dos meses,
ao visitar as províncias, a sensação era a mesma.
Na verdade, viver em Portugal, uma nesga de terra que, segundo os poetas,
Deus teria pintado num momento de incontida inspiração, foi,
para mim como reler os autores citados. Mas a realidade supera-lhes a capacidade
de cantar as belezas, a doçura e até o aroma daquelas terras,
onde as aldeias e as quintas de casas floridas de rosas, cravos gerânios,
margaridas, violetas e petúnias, em meio às latadas de videiras,
compunham um imenso jardim. E em todas as suas cidades, vilas e aldeias,
as ruas e as casas têm o encanto das coisas embebidas pelo tempo.
De Sintra, pequena cidade de veraneio dizia Eça que não há
um recanto que não seja um poema. Mas, a gente percorre o país
de norte a sul, desce do Minho ao Algarve, passa por Guimarães, onde
o país nasceu, Póvoa do Varzim, Coimbra dos estudantes e do
Mondego, Nazaré dos Pescadores e de dom Fuas Roupinho, atravessa
Lisboa, Portimão e entre cerejeiras chega ao Cabo de São Vicente,
onde o infante Dom Henrique, o navegador, na expressão eloqüente
de Edmundo da Luz Pinto, discursando no Quarto Centenário das Descobertas,
preparou Portugal para "as suas cavalarias oceânicas que deram
ao mundo outros mundos" e todos os recantos que vemos são poemas
que ficam para sempre aumentando o nosso acervo de saudades. E também
integram as paisagens o mabrego de trajes rústicos, os estudantes,
os alfacinhas do Chiado e os fadistas da Alfama Lisboetas, os vinhateiros
e, sobretudo, a mulher portuguesa desde as varinas esbeltas e ondulantes
até a última representante da extinta nobreza real que mesmo
quando envelhece guarda o porte altivo de outrora.
AN: E o dr. Salazar, chegou a conhecê-lo
pessoalmente?
LC: Uma figura fora de série, com todas as justas
discordâncias que poderemos ter de sua atuação política.
Professor catedrático da Universidade de Coimbra, antes de completar
30 anos de idade, foi um caso único na vida da velhíssima
instituição, fundada em 1290, portanto 210 anos antes da descoberta
do Brasil. Salazar saneou as finanças portuguesas e, com o seu Estado
Novo, de estrutura inegavelmente fascista, pôs ordem num país
convulsionado por agitadores profissionais. Conheci-o razoavelmente em várias
oportunidades em que acompanhei personalidades brasileiras ligadas ao setor
econômico, ao seu gabinete de trabalho. Era um homem de maneiras suaves,
voz pausada, professoral, sumamente atencioso e de postura quase humilde,
traço de personalidade que encontrei também no dr. Getúlio
no general Francisco Franco e em outros chefes de Estado.
AN: E suas pesquisas em Portugal?
LC: Portugal é uma mina inesgotável para pesquisas
sobre nossa história. Curiosamente, porém, a maioria serão
totalidade dos nossos historiadores que vão garimpar por lá
só ocupam da Torre do Tombo e sequer tomam conhecimento de cinco
outros, também importantíssimos: o dos feitos findos, o histórico
militar, o das identificações, o da Marinha e Ultramar e o
municipal, isto em Lisboa porque no resto do país haverá dezenas
deles que oferecem enorme importância, incluindo em tal lista arquivo
e bibliotecas públicas e particulares, conservadas nas velhas morgadias.
Mas, é claro, para tanta coisa só vivendo uma vida e longa
por ali. Demais a Torre do Tombo com seus sete ou oito quilômetros
de estantes hipnotiza qualquer pesquisador. Para mim me foi de grande utilidade
a pesquisa nos arquivos da Casa Matheus que foi em meados de setecentos
propriedade de Dom Luiz Antonio Botelho e Mourão, Morgado de Matheus
e governador geral de São Paulo, que em 1766 determinou a Correia
Pinto que fosse fundar a Vila das Lagens. A parte mais importante dos seus
arquivos, uns 300 volumosos maços foi comprada pelo governo brasileiro
e está na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Do trabalho realizado
em Portugal tive excelente dividendo que me permitiu escrever os quatro
volumes de "O Continente das Lagens", a maior história
até hoje publicada sobre um município brasileiro, editada
em 1982 e com sua tiragem de 3.000 exemplares esgotada em poucos meses.
AN: Falemos um pouco sobre os velhos palácios
e monumentos de Portugal.
LC: É, sem dúvida, uma parte sumamente interessante
das impressões que se colhe em Portugal. Porém, se a formos
considerar pelo critério de antigüidade então é
assunto vastíssimo que começa no templo romano de Évora,
entre os anos 10 e 200 da era cristã para terminar na ponte monumental
sobre o Tejo, construída, creio, há uns 40 anos. Fiquemos,
então, em quatro dos monumentos que poderemos considerar emblemáticos
de Portugal: a Torre de Belém, construída de 1515 a 1521,
a mais fina jóia da arte Manuelina; o Mosteiro dos Jerônimos,
a praia do Restello, de onde partiram os navegadores, construídos
entre 1500 e 1572, portanto também da fase Manuelina; o Palácio
de Mafra, emulo do Escorial de Fileipe II da Espanha e levantado entre 1717
e 1730 e, finalmente, a Basílica da Estrela 1779 a 1790
Os dois primeiros, seguramente os mais belos de Portugal ou melhor, da Península
Ibérica, nasceram na fase solar da saga heróica lusitana e
os outros serão os mais representativos do período em que
Lisboa recebia mensalmente carregamentos de ouro e diamantes do Brasil.
Considerando o volume de tais remessas, o que ficou em Portugal foi uma
parte mínima.
A outra parte foi esbanjada pela Europa, na compra
de prestígios efêmeros, com embaixadas de ouro e por vias de
outras bobices e constituiu a alavanca que construiu centenas de castelos,
palácios, quintas e monumentos que há dois séculos
o mundo inteiro vem pagando entrada para se embasbacar frente às
riquezas ali esbanjadas. E são estes monumentos, que o tempo em vez
de desmerecer valoriza, que sustentam, pelos milhões de turistas,
vários países europeus. Fomos espoliados de uma riqueza imensa
em benefício da Europa que ultimamente deu para nos fazer acerbas
críticas sob a alegação de que ainda não resolvemos
o problema da miséria, da fome, dos sem tetos, etc.
Pois se não
nos houvessem espoliado a situação seria outra. A propósito,
do mundo que conheço o Ocidente não vejo ninguém
com moral suficiente para criticar o Brasil porque não há
país na Europa e na América do Norte que não apresente
problemas agudos semelhantes aos nossos: sem-tetos, mendigos, pivetes de
rua, corrupção, prisões superlotadas e por aí.
E quando verifico a freqüência e a estranha veemência com
que as entidades e imprensa estrangeira nos atacam, deixando deliberadamente
esquecidas a Ásia, a África e a Oceania, onde os problemas
são mais graves que os nossos, fico a pensar que por trás
disto tudo está havendo uma preparação para qualquer
coisa grave contra o Brasil.
Assisti a campanha eleitoral para a presidência da república,
de que participaram Eisenhower e Steevens, o primeiro o general vitorioso
da segunda Conflagração Mundial e o outro notável intelectual,
de fascinante personalidade. Da janela do meu escritório para a Quinta
Avenida assisti o desfile de milhares de ex-combatentes no lançamento
da candidatura do general, presente no desfile, à presidência
da república pelo Partido Republicano, sendo o seu adversário
do P. Democrata. Ike, apelido do general famoso tinha, de acordo com ideologia
política norte-americana todas as possibilidades de vencer porque
um bom presidente dos Estados Unidos não deve ter lido senão
um único livro, a Bíblia, e Ike parece que nem mesmo ela havia
lido, enquanto Steevens lera centenas, senão milhares de livros.
Assisti na Casa Branca, com a família, a primeira recepção
dada por Eisenhower, como presidente dos Estados Unidos.
Depois de mais de três anos em Nova York, trabalhando de 8 às
20 horas diariamente, estava extenuado e fui removido, já como ministro,
para a embaixada em Madri.
Voltei, em 1954 à velha Europa. Minha especial predileção.
Espanha era um reino sob a duríssima regência de Francisco
Franco, "generalíssimo de Los Exercitos". Madri dos toureiros
famosos, das bailarinas de vistosos trajes, dos "bailaores rabicoos",
do canto "hondo" e das saetas, das procissões soleníssimas,
de 15 teatros funcionando, de milhões de turistas congestionando
a Gran Via, era, tanto quanto a Paris de Hemingway "uma festa".
Passeando à sombra das grandes árvores seculares de "La
Castellna", no frescor daquela que vinha da serra de Guadarrama, numa
paz absoluta, lembrava-me sempre do Paulo Bittencourt, diretor do feroz
matutino carioca "Correio da Manhã", flagelo de todos os
fascistas, quando uma tarde, em visita ao Parque Eduardo VII, em Lisboa,
parou, de repente e virando-se para mim, comentou: estes regimes fascistas
são perversos, abomináveis para os nacionais, mas para os
estrangeiros são deliciosos. Veja que paz, que sossego, que suavidade
a gente desfruta por aqui".
Quanta coisa me vem à lembrança, dos meus anos madrilenhos!
A cidade não é linda como Barcelona, Sevilha ou Granada mas
é alegre, viva, colorida e a mais autenticamente espanhola. Em Barcelona,
na sede monumental do "Consulado do Mar" (século 12) participei
do mais belo festival dançante da minha vida; Sevilha tem aquela
catedral do século 15, que os andaluzes enquanto trabalhavam na sua
construção diziam: "vamos levantar uma catedral que o
vindouros quando "La mirem, digan: Pero, estaban locos"; depois
Granada, com os versos tão tristes do poeta cego, no pórtico
da cidade.
Pouco mais de um ano depois de sua posse voltou a Montevidéu,
em visita oficial, como presidente de República, para, como declarou,
agradecer a hospedagem recebida em situação difícil.
LC Na adolescência e na mocidade lia de tudo. Simplesmente
gostava de ler e só em determinado período me deu uma curiosa
predileção pela psicologia que passou depressa. Com o tempo
fui restringindo minhas predileções, ficando com os maiores
nomes, com os clássicos das várias escolas. E como lia fluentemente
em quatro idiomas, além do português, tomei contato com o que
há de mais importante na literatura universal, desde os ultraclássicos
gregos até os atuais de maior renome.
Para mim Montaigne afirmou uma grande verdade quando disse que "a
leitura é uma forma de felicidade". No que foi ligeiramente
plagiado por Jorge Luis Borges, quando afirma que "a literatura é
uma forma de alegria". Emerson ampliou o conceito referindo-se à
"biblioteca como um gabinete mágico onde estão encantados
os melhores espíritos da humanidade que esperam nossas palavras para
saírem da mudez". Mas os três grandes mestres aconselham
a "só lermos o que nos agrada". Por estas e outras fui
amadurecendo e restringindo as preferências. Na ficção
o que me agrada é o regionalismo sul-brasileiro, talvez porque nele,
pelos temas e linguajar retorne um pouco à infância e adolescência.
Na prosa, pela ordem das preferências o que leio são memórias,
biografias, história e sociologia. Na poesia só não
gosto da prosa picada que nos querem impingir como versos.
Ler para mim é como ouvir música, me tira das poluições
do cotidiano para uma região ideal de paz e puro enlevo. Por isso
mesmo tenho o maior cuidado na compra de livros e sempre me vem a memória
o comentário de João de Barros, o cronista maior do século
16 em Portugal, que afirmava que quase tudo o que se publicava então
só servia para "encher a cabeça dos leitores de lixo".
E naquele tempo talvez só eram editados uns vinte livros por ano.
Imaginem o que ele não diria se vivesse agora... Mas, voltando às
minhas predileções, tenho alguns autores canonizados que nunca
deixo de reler, começando na prosa, por Eça e chegando agora
a Guimarães Rosa, Grieco, Mário de Andrade, Jorge Luiz Borges,
Otavio Paz, Italo Calvino e Eric Hobsbawn. Na poesia tenho vários
santos: Camões, Cruz e Sousa, Jorge de Lima, Bandeira, Aureliano
e Figueiredo Pinto e Mario Quintana.
LC: Uma vida longa e de atuação em vários
setores sociais em constante ebulição, mesmo quando desiluminada
como a minha, mas que teve o prazer de cultivar amizades, o que no dizer
de Manoel Bandeira "é uma das belas-artes", ao atingir
a paz e as sombras do crepúsculo, olhando para o caminho percorrido
vê às margens dele uma legião de amigos e, não
raro, como a mim me acontece, se assombra, se surpreende de haver conseguido
tecer tantas afeições. E elas constituem, talvez, o privilégio
maior de uma dilatada existência que sempre evitou desperdiçar
seu tempo, o único mérito de que me arrogo.
Mas, o privilégio não está somente em conhecer e
ter amizades com personalidades marcantes do tempo em que vivemos. Ser contemporâneo
dos vultos eminentes, viver enquanto também eles viviam já
é um favor imenso concedido pelo nosso destino.
Não conheci pessoalmente, mas considero uma honra ser habitante
do nosso mundo quando por aqui ainda passavam e eu já havia
nascido Einstein, Machado de Assis, Olavo Bilac, Santos Dumont, Barão
do Rio Branco, Sabin, Marconi, Bernard Shaw, Anatole France, Mario de Andrade,
Olavo Bilac, Trostky, Ghandi.
E muitos outros faróis da humanidade nesta citação
de memória seguramente deixei de referir.
Dos grandes vultos com quem convivi ou ainda convivo e dos que apenas
conheci de vista poderia listar, também sem ordem de merecimentos
muitos nomes. A começar pelo de Getúlio Vargas, o maior brasileiro
de todos os tempos como acima referido; S.S. Santidades Pio XII, Paulo VI
e João Paulo II, Wiston Churchill, De Gaulle, Gregório Marañon,
Ortega e Gasset, Jorge Luiz Borges, Roosevelt, Eisenhower, Picasso, Georges
De Chirico, Juscelino Kubitschek, Villa Lobos, Octavio Paz, Capistrano de
Abreu, Ruy Barbosa, Oliveira Lima, Manoel Bandeira, Hemingway, Josué
de Castro, Ungaretti, Greta Garbo, Jorge de Lima, Frida Khalo, Diego Rivera,
David Alfaros Siqueira, Rubem Braga, Ramos Olegario Mariano, Mario Quintana,
Sartre, Osvaldo Aranha, Martinho de Haro, Ary Barroso, Mario Reis, Francisco
Alves, Cândido Portinari, Roberto Campos, Josué Montello, Oscar
Niemeyer e muitos outros também pertencentes à minha galáxia
pessoal de amigos diletos, conhecidos de vista ou de nome, dos quais sou
contemporâneo.
Lugar e data de nascimento: Lages SC, 4 de outubro de 1904.
Filiação: Octacílio Vieira da Costa e Adélia
Ramos da Costa.
Estudos primários: Grupo Escolar Vidal Ramos e Colégio
Diocesano Lages.
Estudos secundários: Ginásio Catarinense (Fpolis)
e Colégio Pedro II (Rio de Janeiro).
Estudos universitários: Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Rio de Janeiro; Curso de Bioquímica e Farmácia,
1924; Faculdade "Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, 1931; Instituto Internazionale de Economia Roma, 1952.
Atividades jornalísticas: Entrou para a redação
de "A Pátria", no Rio de Janeiro, no dia 10 de novembro
de 1923, como redator e até 1945 foi, sucessivamente, redator dos
seguintes jornais do Rio de Janeiro: "O Jornal", "Diário
da Noite", "O Radical", diretor-secretário;
"A Noite", "A Hora", fundador e diretor-secretário
"A Tarde"; "A Nação", redator-chefe; "A
Manhã" e "Gazeta de Notícias". Em São
Paulo foi redator de "A Gazeta". Fundador e diretor de "Publicidade",
no Rio de Janeiro, a primeira revista de Propaganda e Publicidade da América
Latina. Diretor da "Revista Brasileira" do Rio de Janeiro. Fundador
e diretor, durante quatro anos da "Agência Nacional"; colaborador,
durante vários anos das revistas "Para Todos" e "Ilustração
Brasileira", do Rio de Janeiro. Colaborador do diário "Excelsior"
do México; do "Heraldo Tribune", de Nova York; do vespertino
"Madrid", da capital espanhola; da Revista "Política",
editada trimensalmente pelo Instituto de Cultura Hispânica de Madrid.
Em Florianópolis tem colaborado nos jornais "O Estado"
e "Diário Catarinense".
Atividades como funcionário público
Depois de exercer vários cargos de menor relevo em repartições
públicas federais, no Rio de Janeiro auxiliar dos Correios
e Telégrafos, escriturário do Ministério da Viação
e Obras Públicas, redator de publicidade do Instituto de A. e Pensões
dos Comerciários, secretário do Museu Imperial, de Petrópolis,
etc. , foi sucessivamente, a partir de março de 1936 até
1973:
- Secretário do diretor-geral do Departamento de Imprensa e Propaganda, no Rio de Janeiro;
- Diretor de administração do referido departamento;
- Delegado do mesmo departamento à Conferência da Consolidação da Paz, em Buenos Aires, em 1936;
- Delegado do governo brasileiro ao 2º Congresso Interamericano do Municípios, em Santiago do Chile, 1942;
- Membro da Delegação de Jornalistas que visitou a Itália, em 1938, a convite do seu governo;
- Adido Comercial junto à Embaixada do Brasil no México;
- Chefe do escritório comercial do governo brasileiro no México;
- Conselheiro comercial à Embaixada do Brasil no México;
- Adido Comercial à Embaixada do Brasil em Lisboa e chefe do escritório comercial do governo brasileiro em Portugal;
- Chefe do escritório comercial do Brasil em Milão;
- Adido Comercial à Embaixada do Brasil em Roma;
- Adido Comercial à Embaixada do Brasil em Washington;
- Chefe do escritório comercial do governo brasileiro em Nova York;
- Ministro de Assuntos Econômicos do Brasil junto à Embaixada em Madrid;
- Ministro de Assuntos Comerciais junto à Embaixada do Brasil em Buenos Aires;
- Ministro de Assuntos Comerciais junto à Embaixada do Brasil em Montevidéu;
- Delegado do governo brasileiro na Comissão que negociou o Convênio Comercial com a Espanha;
- Chefe da delegação do Brasil que negociou o acordo aéreo com a Espanha;
- Chefe da delegação brasileira que negociou o acordo relativo à dívida do Uruguai para com o Brasil;
- Chefe da delegação do Brasil à 23ª Feira Internacional de Barcelona;
- Delegado do Ministério das Relações Exteriores do Brasil ao Congresso de Turismo dos Países de Região Sul da América Latina, realizado em Montevidéu;
- Chefe da Delegação do Brasil na Comissão Mista Brasileiro-uruguaia de Intercâmbio Comercial;
- Delegado do governo brasileiro na Comissão Mista Brasileiro-uruguaia para o Desenvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim.
- Aposentado como Ministro da 1ª Classe no quadro do Ministério das Relações Exteriores.
Outras atividades
- Em 1934 fundou, com Mário Hora e vários outros jornalistas e escritores, o primeiro sindicato brasileiro: a "União dos Trabalhadores do Livro e do Jornal" UTLJ que teve enorme atuação nas atividades trabalhistas de então. Foi membro de suas diretorias e é possuidor da Carteira de Sócio nº 1, o que o coloca na situação de primeiro sindicalizado do Brasil. Em virtude de reforma da Lei Sindical a UTLJ se desmembrou em vários sindicatos, alguns anos depois de sua fundação, mas ficou na história do trabalhismo brasileiro como a primeira entidade sindical do País;
- Foi presidente da Associação Brasileira de Propaganda durante quatro anos;
- É presidente honorário da Associação Paulista de Propaganda;
- Sócio da Associação Brasileira de Imprensa;
- Sócio do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro;
- Membro efetivo do Instituto Brasileiro de Cultura, do Rio de Janeiro;
- Sócio correspondente da Associacion de Prensa de España, com sede em Madrid;
- Sócio efetivo do Pen Club Internacional;
- Sócio do Instituto de Cultura Hispânica, com sede em Madrid;
- Fundador do Comitê de Imprensa do Touring Club do Brasil;
- Sócio efetivo do Sindicato dos Economistas do Estado da Guanabara;
- Membro da Ordem dos Economistas do Brasil;
- Sócio efetivo da União Brasileira de Escritores com sede no Rio de Janeiro;
- Membro da Academia Catarinense de Letras (Cadeira 37);
- Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.
Condecorações
- Grã-Cruz da Ordem de São Lázaro de Jerusalém;
- Comendador da Ordem de Isabel La Catolica, da Espanha;
- Comendador da Ordem do Mérito, da Itália;
- Oficial da Coroa Italiana;
- Grande Oficial do Instituto de Cultura Hispânica;
- Medalha do Mérito da Cidade de Madrid;
- Colar da Imperatriz Dona Amélia, da Sociedade Portuguesa de Beneficência, com sede em Lisboa;
- Medalha de S.S. o Papa Pio XII;
- Medalha de Corrêa Pinto, de Lages, concedida, em 30 anos apenas a três pessoas.
Livros
- Itália, Numa Visão Panorâmica Edição do Anuário Brasileiro de Literatura Rio de Janeiro 1939.
- Técnica de Propaganda Política Edição Propaganda Rio de Janeiro 1939.
- História e Evolução da Imprensa Brasileira Em colaboração com Barros Vidal. Edição da Comissão dos Centenários de Portugal Rio de Janeiro 1940.
- O Desenho na Publicidade Edição Propaganda Rio de Janeiro 1940.
- Cidadão do Mundo Edição Livraria José Olympio Rio de Janeiro 1942.
- Conferência Interamericana de Municípios In Observador Econômico Rio de Janeiro 1942.
- A Rua das Vaidades Tradução Edição Livraria José Olympio Rio de Janeiro 1943.
- Vargas Ciudadano Del Mundo Edição Libreria Cosmos México 1945.
- Panorama Del Brasile Edição Nardini Roma 1950.
- O Brasil e o Mercado Italiano Edição Livraria São José Rio de Janeiro 1951.
- O Café Brasileiro no Mercado Espanhol Estates Editorial Madrid 1957.
- "La Doctrina Kubitschek en Marcha", em colaboração com Pedro Gomes Aparício Editorial Casado Madrid 1959.
- Uma Nova Política para as Américas Edição Livraria Martins São Paulo 1960.
- O Continente das Lagens Edição Fundação Catarinense de Cultura 4 volumes Florianópolis 1982.
- Otacílio Costa, uma Vida a Serviço da Comunidade Edição do Autor Lages 1983.
- Um Cambalacho Político Editora Lunardelli Florianópolis 1987.
- As Mordomias da Pobreza Editora Lunardelli Florianópolis 1987.
- "Ensaio sobre a Vida de Lindolfo Collor" Editora Lunardelli Florianópolis 1990
Original em: http://www1.an.com.br/grande/licurgo/index.htm
Não conhecia a figura do inhô Licurgo, então devo agradecê-lo, nobre Garcia, por nos apresentar tão interessante personagem da história político-cultural de nosso Brasil Varonil. Devo confessar que o vilarejo de Lagens ganha alguns pontos comigo, por ser o berço de tão iluminada figura.
ResponderExcluirObs: é importante ressaltar que o jornalista Apolinário Ternes provém da cidade de JOINVILLE, a maior e mais rica do estado. Acho que vossa excelência devia ter mencionado isto.
No mais, espero avidamente por outros textos semelhantes.
Mui cordialmente,
Vinícius Gomes
Mas se você não ia aproveitar pra enaltecer xôinville, heim? Tira os bodes do estacionamento, depois falamos sobre a importância dela, diante da nobre princesa da serra.
ResponderExcluirSensacional! Um pesar esta grande persona ser pouco reconhecida! Alguns apontam que se o mesmo não fosse serrano teria tido maior notoriedade em nosso estado!
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